Edifício Carmem Bicca
Av. Rio Branco, 404 - Centro, Santa Maria
Construída nos anos 1930, a residência se destaca no conjunto Art Déco da Avenida Rio Branco pelo detalhe único de sua ornamentação: buquês florais ao lado das janelas revestidas em mica, algo raro no estilo. A casa integra uma quadra com outros edifícios semelhantes, reforçando seu valor como parte de um conjunto histórico que ajuda a contar a memória arquitetônica de Santa Maria.
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Dados históricos

Localizada na Avenida Rio Branco, 454, em Santa Maria, Rio Grande do Sul, a Residência Carmen Fernandes Bicca representa um marco arquitetônico e histórico para a cidade. Construído no estilo Art Déco, o imóvel é um testemunho da modernidade que se instalava no município a partir da década de 1930, período de grande efervescência econômica e cultural impulsionado, em grande parte, pelo desenvolvimento ferroviário.

A história do edifício começa com a família Fernandes Bicca, originária de São Gabriel, que se mudou para Santa Maria em busca de melhores condições de ensino para seus nove filhos. A matriarca, Florinda Fernandes Bicca, após vender parte de suas joias, encomendou o projeto da residência ao engenheiro Luiz Bollick, um dos profissionais responsáveis pela introdução da arquitetura modernizante na cidade. A construção teve início em 1935 e foi concluída em 1938.

Projetada para uso residencial de uma só família, a casa possuía dois pavimentos. No andar inferior, encontravam-se o hall de entrada, sala de jantar, sala de visita, copa, banheiro, cozinha e a suíte do casal. O andar superior era dividido em seis quartos e um banheiro para os filhos. A estrutura contava ainda com um galpão nos fundos que abrigava garagem e dependências para empregados.

A edificação é um exemplar notável do estilo Art Déco em Santa Maria, com características marcantes como a predominância de cheios sobre os vazios, linhas verticais em alto relevo e a composição clássica de base, corpo e coroamento. Destacam-se os frisos verticais e horizontais presentes na fachada e, especialmente, na platibanda. Um detalhe inédito entre os exemplares da cidade é a ornamentação em forma de "bouquet floral" ao lado das janelas, um elemento que remete sutilmente ao estilo eclético anterior. O revestimento original em reboco de cimento batido com pedra mica e granito preto conferia o aspecto "acinzentado", uma das marcas da arquitetura Art Déco na região.

Inicialmente, a residência abrigou a família Fernandes Bicca. Com o passar dos anos e a saída dos filhos, a casa foi adaptada. O pavimento superior chegou a ser organizado para a moradia da filha mais nova, Lourdes, e seu marido, com a construção de uma escada lateral para acesso independente.

Na década de 1990, a residência foi transformada em um pensionato para moças estudantes pela irmã Carmen Fernandes Bicca, que herdou o imóvel. Posteriormente, temendo a insegurança, Carmen decidiu doar o terreno e a casa para a Sociedade Caritativa e Literária São Francisco de Assis - Zona Norte (SCALIFRA-ZN), mantenedora da Universidade Franciscana (UFN), com o desejo de que o local fosse preservado.

Em 2022, a SCALIFRA-ZN iniciou um projeto de revitalização do imóvel, aprovado pelos órgãos de patrimônio do município. A reforma, concluída em 2024, preservou as características arquitetônicas originais, como a fachada, a volumetria, a escadaria interna em mármore e os vitrais. O edifício histórico foi reinaugurado como a nova sede do Museu Histórico e Cultural das Irmãs Franciscanas (MHIF), um espaço que agora conta com 16 salas de exposição, áreas administrativas e de conservação de um acervo de aproximadamente 40 mil peças.

A revitalização incluiu a criação de uma praça lateral com esculturas em bronze que homenageiam Madre Madalena, fundadora da congregação. A escolha do local para o museu também possui um valor simbólico, pois a Avenida Rio Branco foi o trajeto percorrido pelas primeiras irmãs franciscanas ao chegarem a Santa Maria em 1903.

Referências

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